Este artigo é uma tradução/adaptação do artigo Why you shouldn’t rely on grammar rules do site Antimoon.

Neste artigo, eu mostrarei um exemplo do aprendizado do inglês com base em regras de gramática e, a seguir, explicarei por que acredito que esse método de aprendizado é muito menos efetivo do que o aprendizado baseado em input.

Abaixo você verá um trecho de um moderno livro didático de inglês, usado em muitos cursos tradicionais. O livro é totalmente em inglês, porém eu traduzi os trechos pra facilitar o entendimento.

Unidade 4. Gramática: adjetivos
Quando dois ou mais adjetivos são usados antes de um substantivo, os adjetivos seguem uma determinada ordem:
adjetivos opcionais: gerais/específicos
adjetivos descritivos: tamanho/idade/forma/cor/nacionalidade/material
Exemplo: They bought a lovely, stylish, large, old, rectangular, brown, English oak table.

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Unidade 4. Exercícios
Use os adjetivos na ordem correta antes de cada substantivo para criar frases:
Exemplo:
beach — white, sandy, soft → a soft, white, sandy beach
hotel — modern, large, expensive
climate — sunny, warm, Mediterranean
water — blue, clear, clean
restaurant — international, open-air, clean
rooms — spacious, comfortable, twin-bedded

Nos exemplos acima, o livro didático apresenta um regra de gramática que dita a ordem dos adjetivos (“tamanho, idade, forma, cor, nacionalidade e material”) e apresenta apenas dois exemplos. Depois desses dois exemplos, espera-se que você seja capaz de fazer o exercício.

Obviamente, você não poderá fazer o exercícios usando sua intuição (não há como obter tal intuição apenas com dois exemplos), ou seja, o livro quer que você use a regra. Você deve classificar os adjetivos em uma determinada categoria (“tamanho”, “idade”, etc.) e então colocar-los em ordem de acordo com a ordem da regra. Resumindo, você tem que:

  1. Lembrar-se da regra (“tamanho–idade–forma–cor–nacionalidade–material”);
  2. Para cada adjetivo, responder a questão: “Este é um adjetivo de tamanho, idade, forma, cor ou nacionalidade?”;
  3. Ordenar os adjetivos de acordo com a regra.

Agora imagine fazer tudo isso enquanto você está escrevendo ou falando uma frase com dois ou mais adjetivos! Você consegue imaginar quanto tempo levará para criar tal frase?

Mas há outra maneira de aprender? Sim, há outra maneira. Escutando e lendo muito em inglês, ou seja, seguindo o método do input, você aos poucos obterá um entendimento natural e intuitivo sobre a ordem dos adjetivos. Em vez de memorizar a regra e usá-la para construir sentenças, você pode simplesmente absorver as frases corretas através de muita leitura e escuta, que com o tempo seu cérebro irá imitá-las. O método do input é mais fácil e possibilitará que você fale e escreva mais rapidamente.

Resumo: regras de gramática vs. input (leitura e escuta)

Aprender usando regras de gramática tem duas desvantagens:

  • Esforço de memorização: é difícil memorizar regras de gramática. O processo é muito artificial, como memorizar um poema. É muito mais fácil memorizar frases/sentenças de exemplo e deixar que seu cérebro faça o resto.
  • Tempo: é preciso muito tempo para usar uma regra de gramática. Você precisa se lembrar da regra, ver se ela pode ser usada na frase e então criar a frase de acordo com a regra. Escrever uma frase usando regras de gramática é como resolver um equação matemática, ou seja, é algo que leva tempo. Se você frequentemente usar regras de gramática para criar frases, não conseguirá falar ou escrever fluentemente.

Regras de gramática podem ser úteis?

Sim. Por exemplo, quando você não escuta (ou lê) alguma estrutura gramatical frequentemente, pode ser difícil adquirir um conhecimento natural e intuitivo a respeito de tal estrutura. Por exemplo: pode ser difícil adquirir um conhecimento intuitivo do “futuro perfeito” (por exemplo: “By 2050, life in Europe will have changed” – “Em 2050, a vida na Europa terá mudado”), simplesmente lendo livros em inglês, porque o futuro perfeito raramente é usado.

Se você quiser usar o futuro perfeito em suas frases, você poderá memorizar a regra. A regra lhe dirá quando usar o futuro perfeito e como usá-lo corretamente. De forma semelhante, você pode memorizar outras regras ou definições de palavras que são raramente usada.

Outro caso em que memorizar regras de gramática pode ajudar é quando você constantemente comete o mesmo erro em um determinada estrutura gramatical. Nesses casos pode ser útil memorizar a regra para que você note que está escrevendo de forma errada e faça as devidas correções.

Ainda assim, esses métodos costumam ser úteis somente a curto prazo, quando, por exemplo, você precisa saber a regra por causa de uma prova ou quando está cometendo o mesmo erro frequentemente. A longo prazo, o método mais efetivo continua sendo aprender com base em input (leitura e escuta).

Para que perguntar o porquê das coisas

Muitos estudantes têm o hábito de sempre perguntar “Por que?” quando alguém lhes ensina a forma correta de dizer algo. O problema é que esse “Por quê?” não tem uma resposta certa. Ao fazer essa pergunta, os estudantes esperam aprender uma regra de gramática (por exemplo: “Dizemos big red car porque adjetivos de tamanho vêm antes de adjetivos de cor”). Porém a regra não é motivo real pelo qual não dizemos red big car. A regra é apenas uma descrição dos hábitos dos falantes nativos. Ela foi inventada por algum linguista, que simplesmente notou que os falantes nativos jamais dizem red big car ou white small house.

Em outras palavras, não é verdade que os falantes nativos dizem big red car porque conhecem e seguem a regra. É justamente o contrário. A regra existe justamente porque os falantes nativos falam dessa maneira. São os falantes nativos que criam a língua. A gramática apenas segue os hábitos dos falantes.

Eu acredito que não faz sentido perguntar “por que essa frase está correta e a outra não?”. A única resposta para essa pergunta seria “porque os falantes nativos falam dessa maneira”. Em vez de se preocupar com o porquê, simplesmente aprende a maneira correta. Não importa se um linguista escreveu uma regra, basta apenas seguir a maneira correta de falar usada pelos falantes nativos.

Abraços e até a próxima!

Mairo Vergara